Título original: You've heard of rape culture, but have you heard of pedophile culture?
Autora: Alicen Grey
Disponível em: http://goo.gl/huQCAK
Tradução: Laryssa Azevedo
Querido Todd Nickerson,
Em Salon, alguns
dias atrás, você escreveu um artigo provocativamente intitulado “Eu sou um
pedófilo, mas não um monstro.” Presumivelmente, muitas pessoas agora estão
fazendo perguntas como “Seria pedofilia natural?” ou “A pedofilia pode ser
curada?” Mas eu não vou tentar responder essas questões em particular. Ao invés
disso, eu gostaria de ampliar essa conversa preenchendo alguns buracos em seu
artigo.
Vamos começar com essa peça que falta: a vasta maioria dos
pedófilos são homens. E a maioria das crianças vítimas desses pedófilos que escolhem agir a respeito de seus desejos
sexuais são meninas. Esse é um grande detalhe para esconder de sua audiência,
você não acha? Infelizmente, por mais universal e evidente assim como o
patriarcado, esse é geralmente o último detalhe mencionado em conversas dessa
natureza – isso se for mencionado.
Dito isso, pedofilia pode parecer um tabu e ser desprezada
pelas massas, mas uma avaliação honesta de nossa cultura de forma geral revela
o oposto. Eu sugiro que a pedofilia é na verdade recompensada e celebrada, e
que toda a nossa cultura e entendimento sobre sexualidade são construídos sobre
o que parecem ser desejos pedófilos. Eu chamo isso de “cultura da pedofilia.”
Na cultura da pedofilia, a categoria mais acessada do
Pornhub (site de vídeos pornográficos) é “Teen” (Adolescentes). “Meninas” “Barely
legal” (que acabaram de fazer dezoito anos, no limite da maioridade) em roupas
de colegial interpretam de tudo, de “virgens manipuladas” a fantasias de
incesto entre pai e filha, simulações de professor e aluna... se você pode
imaginar, existe pornô pra isso, e foi visto milhões e milhões de vezes. É
justo imaginar se a única coisa que impede alguns desses espectadores de
assistir pornografia infantil são as leis de idade de consentimento.
Influenciada pela indústria pornográfica, labioplastia, uma
cirurgia que “esculpe” os pequenos lábios para caber no padrão minúsculo do
pornô, está ganhando popularidade rapidamente. Assim como outros procedimentos,
como himenoplastia, que restaura nas mulheres a forma apertada das vaginas de
virgens.
Na cultura da pedofilia, mulheres são absolutamente
pressionadas a raspar ou depilar regularmente sua região íntima e axilas. A
indústria cosmética – novamente, visando mulheres – vende cremes e loções “anti-idade”
que tornarão sua pele “macia como de bebê!”
Na cultura da pedofilia, nós casualmente nos referimos a
mulheres adultas como “meninas.” Nós temos uma palavra específica para meninas
adolescentes atraentes: jailbait.
Mulheres são sexualizadas como chicks,
kittens, e babes.
Na cultura da pedofilia, eu frequentemente flagro homens em
público me encarando cheios de luxúria, até que eles percebem os pelos em
minhas pernas – nesse momento, eles recorrem a manifestações teatrais de nojo.
Eu ouvi por acaso grupos de rapazes jovens conversando sobre como eles não
iriam fazer sexo oral em uma mulher se os lábios dela fossem muito
proeminentes. Um homem que tentava fazer sexo comigo havia três anos, de
repente mudou de ideia quando eu revelei que não depilo e não depilarei meus
pelos pubianos. Em outras palavras, muitos homens deixaram de se sentir atraídos por mim quando eu os lembrei que sou
uma mulher e não uma garotinha.
Com certeza todos esses homens, que têm “preferência” pelas
qualidades mencionadas acima numa mulher, não são pedófilos no sentido literal
da palavra. Mas parece que um grande número deles, provavelmente como resultado
de profundo condicionamento cultural, acham atraentes em uma mulher muitas das
mesmas coisas que um pedófilo acha em uma garotinha. Lábios pequenos, vaginas
apertadas, hímens intactos, pele macia como de bebê, braços, pernas e vulvas
sem pelos, juventude eterna, pequenos e frágeis corpos... Como o usuário do
tumblr reddressalert escreveu, “como nós não reconhecemos que essa é
essencialmente a descrição de um bebê ou criança?”
De volta ao ponto:
Eu preciso que você, e seus leitores simpatizantes, entendam
essa grave verdade: pedofilia não está nem perto de ser tabu, ou vergonhoso, ou
repulsivo para a sociedade, como você alega que é. Eu gostaria que fosse. Muito
em detrimento das mulheres pelo mundo afora, seus desejos são refletidos de
volta para você infinitamente, produzidos em massa em escala global para
encontrar uma crescente demanda. Esse mundo de supremacia masculina te recebe
de braços abertos, e todos os seus desejos são ordens. Eu ouso dizer que você
está mais seguro sendo você do que as meninas estão.
Você diz “Eu sou um pedófilo, mas não um monstro,” e eu
concordo de coração com você. Você não é um monstro – você é um homem. Um homem
muito comum. Uma representação microcósmica das perversões mais prevalentes do
patriarcado. Você não é especial, você não é uma anomalia e você não está
sozinho. Nem perto disso. Sua “orientação sexual” é apenas outra manifestação
do desejo coletivo dos homens de subjugar as mulheres numa cruzada para manter
a supremacia masculina a qualquer custo.
Então se “compreender e apoiar” sua pedofilia implica
incentivar homens a erotizar características infantis em mulheres, e ensiná-las
a manter a juventude eterna para não agravar suas inseguranças masculinas,
então você não está pedindo por apoio – você está pedindo submissão. E assim
como você diz “não existe uma maneira ética para que nós possamos realizar
nossos desejos sexuais,” não existe uma maneira ética de pedir cooperação
daquelas de nós que estão ativamente tentando destruir o sistema patriarcal que
sua “orientação” representa.
Perfeito, muito esclarecedor!
ResponderExcluirgente, maravilhoso o texto!
ResponderExcluirperfeito!
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