Autora: Megan Murphy
Postado em: 11/09/2015
Disponível em: http://goo.gl/cosr8q
Tradução: Laryssa Azevedo
Você pode perguntar: Por que ler
a Bustle? Bem, naturalmente pelas
listas hilárias como uma publicada ontem, intitulada “9 coisas que não te fazem
uma feminista melhor que todos os outros.” Eu vou te poupar alguns minutos que
seriam melhor gastos encarando seus poros ou postando fotos do seu gato no Instagram e resumir pra você: Tudo o que
você faz é feminista e todo mundo é feminista e além disso feminismo é o que você
disser que é #abençoada.
Sente-se melhor? Oh, ótimo,
perfeito! Estou aguardando a próxima lista deles, “11 coisas que não fazem de
Marx um comunista melhor do que você.” Você domina os meios de produção? E daí?
Não deixe ninguém cagar regra no seu comunismo #comunismoparatodos. Nasceu
burguês mas sempre se identificou com a classe trabalhadora? Sem problemas.
Assumir uma identidade proletária é uma ótima forma de subverter o binarismo de
classe.
Acabei divagando. A parte boa da
lista da Bustle é que me inspirou a
criar uma lista própria. Aqui estão nove coisas que realmente irão te fazer uma
feminista melhor que os outros.
1) Ser mulher
Você pode ser um poderoso aliado
do feminismo mesmo sendo homem, mas você nunca vai entender totalmente a
experiência feminina. As mulheres devem liderar o movimento em prol da própria
libertação porque as mulheres são o grupo humano oprimido pelo patriarcado, como
classe, enquanto homens são o grupo dominante de humanos em tal sistema. Ser
mulher é fundamental para ser feminista porque o feminismo é um movimento de
mulheres para mulheres. Enquanto homens também são impactados negativamente
pelo patriarcado (masculinidade também é uma droga), no final das contas os
homens é que sempre se beneficiaram dele e mulheres é que sofreram por causa
dele (nas mãos de homens). A melhor forma de apoiar o movimento feminista,
sendo homem, é desafiar outros homens, privilégios masculinos e violência
masculina. De fato, essa é uma grande ajuda e nos poupa o tempo de explicar
constantemente para cada homem que conhecemos o motivos de não sermos
brinquedos sexuais. Você pode fazer tudo isso sem chamar a si mesmo de
feminista. Menos papo e mais ação, meninos.
2) Entender que feminismo não é
sentimento ou identidade, e sim um movimento político
Feminismo não é sobre vestir uma
camiseta que diz que você é feminista. Não é sobre dizer que você é feminista
só por dizer, mesmo que não tenha interesse na libertação das mulheres da opressão
patriarcal. Tudo bem ser nova no feminismo e estar aprendendo – você não
precisa saber tudo sobre o movimento para entrar nele, mas você tem que
entender que não é uma palavra maleável, uma logo, ou um produto
comercializável. Ninguém jamais diria “Socialismo é o que você disser que é! Seja você mesmo, cara!” Porque isso é
estúpido e incorreto.
Se você pensa que objetificar
mulheres ou assédio nas ruas ou privilégios masculinos ou estereótipos de
gênero ou violência sexual contra as mulheres é bom e ok, você não é feminista.
Tirar uma selfie ou casar ou usar
salto ou fazer dinheiro não é igual a feminismo (embora feministas possam fazer
essas coisas! Vê como funciona?) porque feminismo não é sobre você
individualmente se sentir pessoalmente “bem” ou empoderada no momento. Você
pode se sentir empoderada, mas isso não necessariamente produz feminismo.
Similarmente, sentir-se “bem” não é igual a empoderamento. Empoderamento, no
contexto do feminismo, significa empoderamento social de um grupo de pessoas
marginalizadas (nesse caso, mulheres). É
por isso que, por exemplo, posar nua e
se sentir sexy numa revista de moda ou pornografia pode fazer com que determinadas
pessoas se sintam bem fazendo isso (elas vão receber reforço positivo, se
sentir atraentes, ganhar dinheiro, etc.) mas isso não constitui “empoderamento”
pois não gera ascensão de mulheres enquanto classe.
3) Parar com essa besteira de anti-intelectualismo
Meu deus, gente! Pensar não é
ruim. Claro que você não precisa de um diploma para ser feminista, dã. Mas,
pela mesma falácia, toda essa coisa de “Foda-se essa ideologia academicista,
foda-se, teoria, foda-se!” é contraproducente e ignorante.
Não existe ativismo sem
ideologia. Ideologia é o corpo de ideias que enquadram um movimento político.
Nós precisamos dela, senão como é que nós saberíamos o que estamos fazendo? (O
que é aquilo? Nós estamos só tirando selfies
e gritando interseccionalidade uns
para os outros no Twitter? Ah bom.
Foda-se ideologia. Foda-se.)
Da mesma forma, entender a
história desse movimento é uma coisa boa. Isso garante que nós não reinventemos
a roda de novo e de novo. Isso garante que nós não reescrevamos a história,
efetivamente apagando o trabalho e ativismo de milhares e milhares de mulheres
que lutaram pelos direitos que temos hoje.
Entender como pensar
criticamente, entender ideologia feminista, entender história feminista – essas
coisas não são pra elites esnobes, essas coisas são fundamentais. De outra
forma nós não conseguimos nada, e somos deixadas cegamente gritando Poder das vadias! no abismo virtual.
Educação e academia não são coisas ruins, são coisas boas que se tem sido
inacessíveis para muitas pessoas no mundo e/ou deixaram muitos de nós
endividados. Mas educação não é o problema, o sistema é. (Ensino superior
gratuito é uma pauta feminista. Poste com a hashtag.)
4) Entender que feminismo não é
sobre ser politicamente correto
Por favor não me entenda mal aqui
– ser feminista significa que deve-se pensar bem em suas palavras e atos. Dizer
e fazer qualquer merda que quiser é egoísta, irresponsável e imaturo. Mas
nossos esforços para evitar ser adolescentes egocêntricas e ofensivas não tem a
ver com o politicamente correto.
Ser feminista significa pensar
criticamente sobre o mundo ao seu redor. Você não aceita as coisas de cara e
questiona o status quo. Você diz a
verdade, mesmo que a verdade gere desconforto nas pessoas. Mudar gera
desconforto nas pessoas. Questionar a ideologia dominante gera desconforto nas
pessoas. Ser politicamente correto significa ter certeza de não estar chateando
ninguém e que você aceita a autoridade sem questionar. Essa autoridade pode ser
“progressiva” ou “liberal”. Pode até ser uma autoridade que alguns consideram “feminista”,
mas ainda é uma autoridade. No momento em que você para de pensar por si mesma,
começa a repetir o discurso dos seus pares sem pensar independente do mantra
fazer sentido ou não, para de ser corajosa, para de questionar a ideologia e as
mensagens por trás do discurso popular, esse é o momento em que você deixa de
ser agente da mudança e se torna um fantoche.
Tantas feministas hoje têm medo
de falar qualquer coisa controversa e isso é deprimente pra caralho. Feministas
jovens têm medo de falar sobre ou questionar discursos populares para que não
sejam consideradas intoletantes ou alguma coisa “fóbicas”. Ao invés de
retrucar, elas se deixam levar. Divergir é algo bom. Sua habilidade de pensar
por si mesma e questionar ideias que são tidas como corretas é crítica. Que se
foda o politicamente correto.
5) Não discriminar por idade
Quando é que discriminação por
idade tornou-se aceitável no feminismo? Ah, sim. Terceira onda... Ok, então nós
entendemos que adolescentes revoltadas querem dar uma de “Você não é minha mãe de verdade!”
*bate a porta* nas mais velhas, mas nós não somos adolescentes revoltadas. Somos
adultas. E se você é uma feminista é inaceitável dizer “segunda onda” como um
insulto. Esse lixo promove o ódio a mulheres, é antifeminista e discriminatório
e se você quiser lançar essa, parabéns, você está apoiando o patriarcado.
Mantenha sua ignorância e continue perpetuando noções sexistas de que mulheres
que não são mais jovens são bobas, antiquadas, puritanas, sem criatividade, sem
humor, sem vontade de viver, segurando suas pérolas a caminho da casa dos
velhos amigos, onde podem jogar bingo, mas saiba que você não é feminista.
Mulheres mais velhas do movimento sabem mais que você e não vamos a lugar
nenhum sem elas.
6) Não acusar feministas de odiar
sexo e homens como se isso fosse uma coisa ruim
Mulheres podem odiar homens e
sexo. Odiar homens e sexo é perfeitamente natural. Homens e sexo têm sido fonte
de trauma para incontáveis mulheres, ao longo de séculos. Também é perfeitamente
natural amar determinados homens e gostar de sexo. Nenhuma dessas realidades
são coisas que devem ser usadas por feministas para insultar, atacar ou repudiar
outras feministas. Acusando feministas que desafiam a violência masculina de “odiar
sexo” ou “odiar homens” você está reforçando lixo heteronormativo e alimentando
estereótipos que dizem que feministas só estão bravas porque não estão sendo
fodidas o suficiente. Essas historinhas estão conectadas à cultura do estupro –
a ideia de que homens podem foder as mulheres até que elas fiquem passivas ou
até que se tornem hétero. Essa é a ideia de que apenas as mulheres fodíveis são
mulheres “de verdade”. É a ideia de que mulheres precisam de homens para serem
completas e para que importem – que elas apenas existem em relações com homens.
Essas são ideias antifeministas.
A mulher gostar de homem ou sexo não
influi em seu valor ou se sua vida, ideias, palavras ou ativismo significam
algo ou não. O feminismo luta justamente contra a ideia de que o relacionamento
das mulheres com homens é o que faz com que elas sejam visíveis e valorizáveis
enquanto seres humanos. É que nem atacar uma mulher dizendo que ela é feia. Mulheres
não existem para ser olhadas ou fodidas por homens. Elas podem existir por elas
mesmas! Leve seu sexismo lesbofóbico de volta ao fórum da MRA (Movimento pelos
direitos dos homens). Eles vão te amar lá.
7) Não ser do MRA
Falando em MRA, sabe o que
definitivamente te torna uma feminista melhor que todos os outros? Lutar pelos
direitos das mulheres, não pelos direitos dos homens. E com isso eu quero
dizer, ao invés de lutar pelos direitos de homens que querem pagar por
boquetes, tente lutar pelos direitos
humanos das mulheres, que incluem poder pagar o aluguel e se alimentar sem
ter que pagar boquete para os homens. Um essencial, porém negligenciado aspecto
do feminismo é a ideia de que as mulheres são humanas. Isso aí! Somos tão radicais assim. E por sermos humanas
merecemos coisas como comida e casa e deveríamos ter acesso a essas coisas sem
ter que transar com homens estranhos ou ter que nos sujeitar a abuso.
Se você pensa que o homem tem
direito ao sexo, você está errado. Ninguém tem direito a sexo. Não é um direito
humano. Seu fetiche por mulheres asiáticas, pornô com colegiais, anal ou por
chamar mulheres de vadias enquanto puxa o cabelo delas e as sufoca não é uma
parte inata da sua sexualidade bizarra. Isso só significa que você se excita
com a desumanização de mulheres. Bye,
Felicia.
8) Entender que objetificação e
nudez não são a mesma coisa
Feministas não odeiam os corpos
nus de mulheres. Nós amamos os corpos femininos. Nós os temos. Nós os usamos
todos os dias para coisas como comer e andar e agarrar filhotinhos. Nós
adoraríamos se nossos corpos pertencessem a nós, para nosso próprio uso e
aproveitamento, ao invés de para a população masculina.
Nossos corpos não existem para
ser admirados ou sexualizados ou fodidos. Eles existem para que vivamos neles. Nossa
cultura fundiu sexo e sexualidade de tal forma que pensamos que são a mesma
coisa. Mas não são. Objetificação pode parecer
sexy porque nós aprendemos a
sexualizar objetificação. Nós aprendemos a performar
sexualidade ao invés de sentir. A razão pela qual nudez feminina é tão
forte não é porque feministas têm medo da própria pele, mas porque a nudez
feminina não pode existir sem ser pornificada. É por isso que as pessoas surtam
quando as mulheres amamentam em público. Porque nós pensamos que a única razão
de um seio estar ali é para que os homens o comam com os olhos. Parem de
transformar nossos corpos em material para punheta e talvez o “puritanismo” da
sociedade desapareça.
9) Pelo amor de deus, parem de
tentar fazer com que o feminismo seja legal
Popularizar o feminismo não
funciona. Não porque eu não acho que o feminismo devesse ser popular, mas porque
para vendê-lo para as massas atualmente, é preciso “amansá-lo” até o ponto em
que ele perde todo o significado. Nós não precisamos vender. Nós não deveríamos
vender. Nós podemos manter nossos valores e ainda trazer as mulheres para o
barco. Se as pessoas não quiserem entrar no feminismo de verdade porque elas
não gostam do feminismo de verdade, talvez elas precisem de mais tempo pra
pensar. Ou talvez elas apenas não sejam feministas. Eu sou a favor educar
pessoas, mas vamos educá-las direito. Tornar o feminismo sexy e palatável para pessoas que não acham que o patriarcado é um
problema não vai ajudar o feminismo.
Ser feminista não significa que
você não pode ser legal e divertida ou até mesmo atraente, mas feminismo de
verdade não é sobre ser legal,
divertida e atraente. Na verdade não é legal, nem divertido, nem atraente.
Desculpa aí. Quer dizer, nós estamos lutando contra coisas tipo abuso
doméstico, estupro, escravidão sexual, incesto, pedofilia e feminicídio. Não é
legal, nem divertido nem sexy. Esse
não é o ponto. Feminismo não é a porra de uma tendência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário