quarta-feira, 29 de março de 2017

[CAPÍTULO 4, PARTE 1] Beleza e Misoginia - Sheila Jeffreys (2005)

PORNOCHIC
A prostituição constrói a beleza

      No final do século XX a indústria da pornografia tornou-se altamente lucrativa e respeitável. Enquanto crescia em tamanho, passou a ter considerável influência social na construção das práticas de beleza. Nos anos 1960 e 1970 em culturas ocidentais as censuras à pornografia foram relaxando progressivamente sob a influência da “revolução sexual”. Eu argumentei em outro lugar que essa revolução sexual consagrou como positivos valores sociais os desejos sexuais de homens pelo acesso a mulheres, particularmente através da pornografia e da prostituição (Jeffreys, 1990, 1997b). Mas historiadores da sexualidade entenderam a “revolução sexual” como sendo sobre a liberdade sexual das mulheres. Certamente as mulheres obtiveram alguns ganhos. O direito das mulheres a alguma forma de resposta sexual e a ter relações sexuais fora do casamento tornou-se muito mais aceito, mas a maior beneficiária dessa “revolução”, eu sugiro, é a indústria do sexo. A indústria do sexo foi capaz de expandir em um clima econômico e social de capitalismo liberal de livre mercado. Novas tecnologias de vídeo e a internet foram extremamente convenientes para essa indústria e foram fontes imediatas de novas práticas de pornografia. Os valores da pornografia, e suas práticas, se estenderam para fora das revistas e filmes para tornarem-se os valores dominantes da propaganda de moda e beleza, e da propaganda de muitos outros produtos e serviços. Tem havido uma pornografização da cultura. Neste capítulo eu analiso a forma pela qual práticas pornográficas têm influenciado as indústrias da moda e da beleza.

PORNOGRAFIA TORNA-SE RESPEITÁVEL
      A indústria do sexo cresceu enormemente em tamanho, aceitação social e influência em políticas masculinas nos anos 1980 e 1990. A normatização da indústria coincidiu com seu período de maior expansão nos anos 1990 como resultado de uma política da administração Clinton nos Estados Unidos de não processar a pornografia (Adult Video News, 2002ª). Adult Video News (Notícias de Vídeos Adultos) (AVN), a revista online da indústria da pornografia dos Estados Unidos, especula que Clinton gostava de pornografia e tinha um estoque especial em seu avião Air Force One (2002ª). AVN diz que Clinton era um libertino e que durante seu mandato as companhias produção pornográfica dobraram e a pornografia se infiltrou em muitas áreas da sociedade norte-americana.
A indústria dos Estados Unidos fez grandes esforços para ganhar aceitação. Contratou lobistas, participou de caridade e fez campanhas pelo uso de camisinha para prevenir o HIV. Aprendeu com outra indústria muito prejudicial, a do tabaco, que apesar de ter perdido a posição social agora, por um tempo usou lobistas e pessoas para catapultar a indústria muito bem. Por exemplo, fumantes homens que eram a epítome da masculinidade eram usados para promover a indústria, até que morriam devido a seus efeitos. A indústria norte-americana da pornografia criou exibições da indústria do sexo, agora mantidas em alguns países e muitos estados na Austrália anualmente. Inventou a cerimônia de premiação. Isso começou com a Adult Video News em 1983. Como a AVN coloca:
Com mais e mais atenção da mídia de massas focada na premiação todo ano, a extravagância também serviu para aumentar consideravelmente o perfil da indústria na nação e no mundo. E eles não eram chamados de o equivalente adulto ao Oscar por nada. Como o Oscar, a estatueta de Melhor Filme ou Melhor vídeo pode impulsionar significativamente as vendas e aluguéis daquela produção.
      A indústria norte-americana empregou a tática de tornar algumas estrelas pornô celebridades que então passam a ser usadas na promoção da cultura pop de massas. Agora estrelas pornô são respeitáveis o suficiente para estar em programas de rádio dos Estados Unidos como Howard Stern ou o Porn Stars Are People Too (Estrelas Pornô São Pessoas Também), da rádio ABC, da Disney. Estrelas pornô estão aparecendo em programas de TV famosos. Artistas pornô dançam nos palcos em premiações musicais.
      Um exemplo do nível de aceitação social que indústria pornográfica atingiu é o sucesso de Richard Desmons, um pornógrafo famoso do Reino Unido que publica títulos como Big Ones (Os Grandes) e Horny Housewives (Donas de Casa Excitadas) e um site de sexo “ao vivo”. Em fevereiro de 2001 o governo do trabalho britânico aprovou que Desmond controlasse os tabloides Daily Express e Daily Star. Oito dias depois o Partido dos Trabalhadores britânico recebeu uma doação de £100,000 para despesas com a eleição (Maguire, 2002). Apesar de alguma reação crítica ao que parecia uma decisão de dar dois grandes jornais do Reino Unido a um rei da pornografia em troca de uma doação, em maio de 2002 Desmond foi convidado para um chá na Downing Street para encontrar Tony Blair. É difícil imaginar esse grau de aceitação social da pornografia e da indústria do sexo como completamente razoáveis sargentos em armas para o partido dos trabalhadores em 1970, quando a pornografia ainda tinha um ar desonroso. Os lucros da indústria pornô agora são tão grandes que ela é capaz de comandar considerável obediência política.
      Uma força motriz na normatização do que passou a ser visto como pornografia leve é o desenvolvimento do pornô extremamente pesado nos anos 1990. Nesta década a pornografia dos Estados Unidos, que domina o mundo do mercado nessa forma de exploração sexual, tornou-se muito mais violenta e degradante contra as mulheres usadas nela. Adult Video News descreve o movimento em direção a pornografia “hardcore” dessa forma:
Havia o artifício necessário do “cuspa e abra”, quando um cara abria o ânus de sua parceira tanto quanto possível e então dava uma cusparada dentro. Anal e penetração profunda tornaram-se uma exigência; logo também tornou-se o truque “airtight” (um pênis em cada buraco), a mais nova posição no homoerótico (anal duplo), mega orgias, transar sufocando, urinar, ejaculação múltipla (...) até mesmo vômito, por um breve, desagradável momento. Nós apenas podemos imaginar o que vai pegar em seguida.
(Adult Video News, 2002ª)
      Esse tipo de pornografia, que progressivamente ganhou popularidade, é, de acordo com a AVN, direcionada a jovens homens que gostam de humor de vestiário. Enquanto algumas áreas da pornografia tornam-se mais e mais extremas na violência direcionada a mulheres, outras têm sido normatizadas e são capazes de fazer seu caminho perfeitamente rumo à moda respeitável e à “arte”.

A ECONOMIA DA PORNOGRAFIA
      Nos anos 1990 a indústria do sexo começou a ser coberta seriamente nas páginas de negócios em jornais. Os lucros exatos obtidos pela indústria são difíceis de medir, em parte porque existe uma diversidade de formas de exploração sexual, e porque algumas companhias não são competitivas em seu envolvimento com a pornografia para ser conhecidas. Existem algumas estimativas disponíveis, entretanto, para os Estados Unidos. Bill Asher, presidente da companhia de vídeos pornográficos Vivid, estima que a indústria em 2001 valia 4 bilhões de dólares incluindo vídeo, DVDs, TV, internet, clubes de strip e revistas mas diz que esse valor já era o dobro do que valia apenas três anos antes. Denis Hof, um associado de Larry Flynt em Hustler, confirma que a indústria está aumentando em tamanho muito rápido. Ele diz que ao passo que apenas nos 8 anos anteriores 1.000 vídeos pornográficos por ano eram produzidos por ano nos Estados Unidos, o dígito era 10.000 em 2001. O tamanho da indústria na internet em 2002 era indicado pela existência de 200.000 sites pornográficos (Confessore, 2002). Um relatório de uma companhia de pesquisa de tecnologia da informação em 2002 prevê que lucros de materiais pornográficos transmitidos para telefones celulares nos Estados Unidos alcançaria anuais US$ 4 bilhões em 2006, de um “total gasto com pornografia de US$ 70 bilhões” (Nicholson, 2002). Para a indústria fora dos Estados Unidos é difícil ter estimativas. Entretanto, um relatório do Comitê de Mulheres da União Europeia sobre o impacto da indústria do sexo na Europa em 2004 estimou que “70% dos £252 milhões que os usuários europeus da internet gastam na rede” (i.e. um particular meio de pornografia) “durante 2001 vinha de vários sites pornográficos” (Eriksson, 2004, p. 11).
      Nos anos 1990 a pornografia foi incluída pelo mundo corporativo nos Estados Unidos. Companhias muito grandes e notórias começaram a lucrar consideravelmente com a indústria. As grandes companhias obtêm seus lucros de pornô perturbador. AT&T em 2003 estava distribuindo isso através de seu canal de TV à cabo. Mais tarde naquele ano anunciou a intenção de abandonar toda a programação adulta (Brady e Figler, 2003). As grandes redes de hotéis Marriott, Westin e Hilton lucraram com pornografia pay-per-view em seus quartos. A General Motors, a maior companhia do mundo, é dona da DirecTV, cujos canais pornográficos estão dentro de milhões de casas nos Estados Unidos. A General Motors agora vende mais filmes de sexo todo ano do que Larry Flynt (Egan, 2001).
      Adult Video News alega que os vídeos pornográficos valem mais do que a indústria de filmes legítima de Hollywood e frequentemente usa a mesma equipe (Adult Video News, 2002ª). A indústria é centrada em Hollywood e cria, de acordo com AVN, mais empregos para o exército de técnicos de filmes de Hollywood e equipe de set do que a produção mainstream. A indústria pornográfica utiliza métodos e linguagem similares, por exemplo, companhias de produção pornográfica agora têm “garotas contratadas” que trabalham por contrato na companhia, como atrizes de filmes costumavam trabalhar na indústria comum. Existem mais e mais similaridades entre os gêneros comum e pornográfico. Filmes mainstream sobre a indústria são feitos, permitindo que homens vejam strip e atos sexuais no cinema local. A indústria comum se torna mais e mais pornografizada, mostrando sempre mais atividade sexual gráfica. Outro aspecto da normatização que está ganhando espaço é a forma na qual a indústria da música está se tornando entrelaçada com a indústria pornográfica. Gêneros inteiros de música pop agora se convergem com a respeitável indústria pornográfica, com atores pornô cantando na Tower Records, por exemplo. Seu público-alvo são os mesmos consumidores, jovens homens.

PROPAGANDA PORNOGRÁFICA
      No começo do século XXI a onipresença da pornografia na propaganda levou alguma inquietação a ser expressada na imprensa de qualidade. Uma matéria de Jessica Davies no The Times comenta as imagens pornográficas explícitas na Vogue:
Primeiro é um anúncio da Dior no qual uma jovem modelo, coberta em óleo e aparentemente tocando uma guitarra imaginária, toca sua virilha com as pernas bem abertas. Depois é uma propaganda de perfume de YSL com uma garota nua em pé entre dois homens que pareciam gays. Então uma promoção de sapatos de Kurt Geiger com um casal fazendo sexo contra uma parede, a mulher (naturalmente) expondo muito o corpo. E uma propaganda de Emanuel Ungaro no qual uma mulher pouco vestida se masturba ajoelhada no chão de madeira.
(Davies, 2001)
      Davies perguntou a editora da Vogue, Alexandra Shulman, sobre seus pensamentos e relatou que, “ela reconhece que a ‘moda erótica’ como ela chama, está sendo mais usada”, mas ela “não tem problemas com tais imagens”. Shulman disse, “Eu tenho a visão de que é mais positivo que negativo (...) Certamente não me ofende – e a revista vende bem.” Mas ela disse a Davies que a “tendência por mais imagens explícitas pode ter ido longe demais”. É improvável, entretanto, que ela terá qualquer poder de decisão sobre o que é “longe demais”. Uma diretora de propaganda em outra publicação disse a Davies que “minhas visões pessoais provavelmente chateariam muitos de meus clientes” e apesar de ela não gostar muito do que aparece em sua revista ela está “envolvida com moda poderosa e com as casas de beleza que a financiam” (2001).
      Jonathan Freedland, no The Guardian, expressa sua preocupação com o fato de que a propaganda pornográfica se espalhou além da moda, até no humilde macarrão instantâneo. Como Freedland descreve, “Eles mostram um homem a mercê de uma prostituta em roupas de dominatrix, enquanto baba sobre um especialmente picante macarrão instantâneo. Ele implora que o lanche faça seu pior, terminando com o slogan: ‘Hurt me, you slag (Acaba comigo, vagabunda)’” (Freeland, 2002). O anúncio do macarrão instantâneo é sintoma de uma tendência na propaganda da moda na qual não apenas as mulheres tiram suas roupas e ficam em posições sugestivas aprendidas pela pornografia, mas são agora frequentemente representadas como prostitutas.
      Uma maneira na qual a propaganda da moda está seguindo a pornografia é que a nudez está se tornando a regra. Seios agora são rotineiramente expostos, completamente ou por trás de tecidos transparentes. Os designers e fotógrafos usam a nudez precisamente para conseguir atenção da mídia. É pouco provável que as roupas reveladoras encontrarão muito mercado entre mulheres mas isso não importa em tempos nos quais marcas de moda estão tão desesperadas por clientela que qualquer atenção que possa impulsionar suas linhas de perfume e bolsa vale a pena. O comentário sob a figura é “uma modelo mostra uma roupa do novo designer Toni Maticevski no Festival de Moda de Melbourne ontem. A coleção feminina de Maticevski mostra arranjos e cortes não ortodoxos, com pregas e bainhas” (Express, 2002). Não são as bainhas que fizeram com que a foto fosse incluída e mulheres pouco provavelmente correriam para comprar a vestimenta.
      Bruce LaBruce, um pornógrafo gay canadense, comenta sobre o que ele chama de “o espaço sempre diminuído entre pornografia e moda” e que ele ouviu de “ao menos cinco novas revistas saindo que fazem a distinção decididamente academicamente” (LaBruce, 2001). LaBruce descreve um ensaio fotográfico que fez “apenas para ficar fora da curva” com um homem “estrela pornô” russo e um “brasileiro estilo prostituto”, “Um estilista amigo meu vestiu o russo em um casaco de pele preto de US$45,000 da Gucci e alguns ternos Helmut Lang. Eu fotografei ele pegando o garoto de programa enquanto fazia compras na Bed, Bath and Beyond em Chelsea antes de levá-los a um apartamento estilo anos 70, onde continuei a fotografar enquanto eles faziam sexo. É tipo uma piada” (LaBruce, 2001). LaBruce tem alguma ambivalência sobre sua profissão e diz em um artigo que escreveu para o Guardian, “Enquanto eu estive no set do meu primeiro filme pornô ‘legítimo’ e me encontrei obrigado a ir lá e limpar a bunda de um dos artistas que estava experienciando um pequeno vazamento anal, eu não me senti particularmente glamuroso” (LaBruce, 2000). A pornografia não glamurosa ganha uma estampa glamurosa através da sua associação com a moda, de qualquer maneira.
      A cada vez mais próxima integração entre pornografia e fotografia de moda em relação a mulheres adultas não parece atrair muita revolta. Mulheres adultas, ao que parece, são o alvo certo para exploração sexual. Mas crianças são vistas como inocentes e merecedoras de proteção, então o movimento da moda em direção a pornografia com crianças tem causado sérias explosões de críticas negativas. A Rede de Conscientização de Mídia dos Estados Unidos documenta a jornada rumo à pornografia do designer bissexual Calvin Klein (Media Awareness Network, 2002). Klein ganhou notoriedade e vendas em 1980 quando usou Brooke Shields, então com 15 anos, como modelo e fez com que ela dissesse coisas como “Nada fica entre meus Calvins e eu”. Ele contribuiu significativamente naquela década com a evidente sexualização na propaganda de moda. Nos anos 1990 ele foi muito mais longe. Em uma campanha de 1995 ele usou modelos na puberdade em poses provocativas:
Em um desses anúncios, a câmera focava no rosto de um jovem rapaz, enquanto uma voz masculina por trás das câmeras o persuadia a tirar a camiseta, dizendo “Você é muito bonito. Quantos anos você tem? Você é forte? Você acha que poderia tirar essa camiseta de você? Este é um corpo bem legal. Você malha? Dá pra ver.” Em outro, uma jovem garota ouve que é bonita e para não ficar nervosa, enquanto começa a desabotoar as roupas.
(Media Awareness Network, 2002)
         De acordo com a Media Awareness, Klein insistiu que a campanha não era pornográfica e que os anúncios tinham a intenção de “transmitir a ideia de que o glamour é uma qualidade interna e que pode ser encontrada em pessoas comuns nos cenários mais ordinários; não é algo exclusivo a estrelas do cinema e modelos”.
      Parece improvável, entretanto, que Klein seja inocente da precisa similaridade entre seus anúncios e a pornografia infantil. Como um homem ativo na subcultura dos homens gays em Nova Iorque nos anos 1970/1980 (Gaines e Churcher, 1994) é provável que ele tenha se familiarizado com a pornografia, considerando sua grande importância na cultura gay masculina (Jeffreys, 2003). Em 1999 Klein seguiu adiante com uma campanha de uma linha de roupa íntima infantil na qual apareciam jovens crianças em roupas íntimas sorrindo para a câmera em um gigantesco painel publicitário na Times Square, bem como em anúncios de página inteira no New York Post. Os anúncios foram retirados após 24 horas.
        A revolta que foi manifestada em relação a campanha com pornografia infantil não desencorajou designers de usar imagens sexualizadas de crianças por seu valor chocante. Em 2001 modelos de apenas 9 anos foram usadas para mostrar a coleção de Stella Cadente em Paris vestindo “decotes generosos e bainhas altas” (Fitzmaurice, 2001). A “modéstia” de “crianças extremamente arrumadas”, nos disseram, “mal estava coberta por uma fina camada de material” (2001). Provavelmente não é coincidência que esse show de pornografia infantil venha “entre os anos mais magros da indústria da moda francesa” (2001). Pornografia e prostituição são indústrias de último recurso quando os tempos estão difíceis na economia. Modelos crianças foram usadas para modelar roupas de adultos pela designer italiana Mila Schon em 1999 e por Vivienne Westwood em 1997 (Fitzmaurice, 2001).
      Outro indicativo da maneira pela qual a indústria do sexo está sendo integrada em mais e mais áreas da vida social é a tendência do pole dance como uma rotina fitness (Tom, 2002). A mania começou em Nova Iorque e se tornou aeróbico com mulheres instalando poles em suas casas para se exercitarem. De acordo com a colunista do The Australian Emma Tom, “Pole dancing, mais conhecido como aula de ‘cardio strip’ está muito popular em academias de Nova Iorque e Los Angeles com celebridades como Heather Graham e Kate Moss recebendo aulas particulares. Fanáticas fitness bem conhecidas como Pamela Anderson e Goldie Hawn têm até poles instalados em seus quartos” (Tom, 2002). Pole dancing é usado em eventos de moda também. A supermodelo Elle MacPherson contratou strippers para lançar uma linha de lingerie em um clube de strip em Sydney em 2002. As modelos posaram enroscadas em poles (Tom, 2002).
        A distinção entre eventos de moda e performances da indústria do sexo é algumas vezes muito difícil de delimitar. A modelo australiana Pania Rose tem descrito seu desconforto por ter que performar um cenário pornográfico em um evento de moda (Rose, 2003). Na chegada do evento de moda ela descobriu que o show se chamava “Jeremy Scott’s Sexibition. Live peep shows”. Isso imediatamente fez com que ela se sentisse desconfortável porque ela não queria fazer pole dance. Ela descobriu que sua roupa era “muito reveladora. Eu acho que meu corset é na verdade um mini selim”. Ela teve que “me ajoelhar em feno e tentar ser ‘provocativa’... Mas após 15 minutos do show de 1 hora eu apenas me sentia degradada. Meus joelhos estão sangrando, meu top não está ficando no lugar e me sinto ridícula” (Rose, 2003, p. 18).
      Elle MacPherson é retratada nua com uma toalha estrategicamente posicionada em uma imagem, ou com fita adesiva sobre seus mamilos em outra, e nua coberta com algo similar a plástico em outra, em um website de supermodelos bonitas (Hot Supermodels, 2002). Existem muitos websites dedicados a mostrar supermodelos nuas. O site de Elle MacPherson carrega o anúncio: “Aumente seu pênis! Pílulas naturais para crescimento de pênis. Testado por médico e Aprovado! Sem Bombas! Sem Cirurgia!” É provável que os sites funcionem como um tipo de pornô leve para os visitantes. Para consumidores homens, os homens envolvidos na indústria da moda, na mídia dominada por homens, na objetificação da mulher na moda para a excitação masculina. Existem distinções começando a se desenvolver entre anúncios de moda pesados e leves que refletem as distinções entre o pornô pesado e leve.
        A relação simbiótica entre a fotografia de moda e a pornografia está se tornando tão próxima que parece possível que as revistas de moda que já mostram a moda em mulheres quase nuas e em poses sugestivas, irá em breve esperar que modelos se envolvam em atos sexuais para ensaios de moda. Tal desenvolvimento é pressentido no trabalho de um dos mais famosos fotógrafos de moda do momento, Terry Richardson, que é comparado a Helmut Newton em seu status mas reconhecido por ser ainda mais sexualmente explícito em sua abordagem. Richardson ganhou fama por ensaios de moda sexualizados nos anos 1990 e por epitomizar o pornô chic. Suas fotografias de moda para a marca Katherine Hamnett, por exemplo, incluíram imagens “nas quais os pelos pubianos das modelos eram visíveis por trás de suas saias curtas”, e Sisley, onde, memoravelmente, “a modelo Josie Moran espremeu leite da teta de uma vaca em sua boca” e ele “transformou Kate Moss, menos suas calcinhas, parecer uma garota de programa cansada” (O’Hagan, 2004).
     Richardson expandiu na produção de sua própria fotografia personalizada na qual ele é fotografado em atos sexuais com modelos e outras jovens esperançosas. Um jornalista do Observer o entrevistou sobre a exposição em Manhattan e a publicação de dois volumes glamurosos de centenas dessas fotografias. Uma amostra de fotografias é descrita da seguinte forma: “Terry sendo servido por duas gatinhas que poderiam, podem até ser, modelos. Aqui ele recebe um boquete de uma garota que, por alguma razão, está amarrada em uma mala com apenas a cabeça e a boca aberta para fora. E aqui ele está sendo estimulado oralmente por outra menina enfiada em uma lixeira” (O’Hagan, 2004). Richardson professa não usar pornografia e diz “Eu não gosto de explorar ninguém” (O’Hagan, 2004). Aparentemente “meninas...vêm batendo na porta” de seu estúdio para ser fotografadas em atos sexuais com ele. Richardson explica suas motivações dessa forma: “Eu era uma criança tímida, e agora sou esse homem poderoso com esse pau, dominando todas essas meninas” (O’Hagan, 2004). É provável que sua reputação seja tão considerável que jovens mulheres esperem ganhar alguma vantagem e talvez se tornarem modelos ou famosas ao segurar seu “pau”. Onde uma vez jovens mulheres tiveram que servir sexualmente homens para ganhar empregos na indústria da moda e do entretenimento, existe agora uma virada extra. Elas podem ter que ser fotografadas e exibidas também. Como homens como Richardson estão cada vez mais explícitos em ensaios de moda, não irá demorar muito até que anúncios que já existem em letreiros e revistas nos quais mulheres ajoelham em frente a homens como se estivessem para servi-los sexualmente exibam real felação.

      A pornografização da fotografia de moda em suas formas mais extremas pode não ter muito efeito sobre o que as mulheres vestem já que muitas não irão escolher ficar seminuas em suas vidas sociais ou profissionais. Entretanto, existem formas pelas quais isso produz um impacto negativo em mulheres em geral. Isso populariza o visual “vadia” e prostituta, saias muito curtas, botas, piercings para jovens mulheres. Isso faz com que parecer que você trabalha na indústria do sexo seja chique e dessa forma ajuda industriais do sexo a normatizar seus negócios de tráfico internacional de mulheres. A indústria do sexo vende roupas e a indústria da moda vende prostituição e pornografia.

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