Por: Sara Schaefer
Disponível em: https://goo.gl/nH2ffR
Tradução livre por: Laryssa Azevedo
Eu recentemente vi um post no Facebook que encorajava as
meninas a falar alto. Dizendo para não rir das piadas dos garotos se não fossem
engraçadas. Para se impor. Para não se desculpar. Para não sorrir se pedirem.
Para ocupar o espaço. Para ser uma “mulher durona”.
Esses tipos de mensagens inspiracionais girl-power tem dominado minha timeline por meses, agora obviamente
porque estamos vivendo um pesadelo no qual o sexismo personificado está
concorrendo à presidência contra a primeira candidata mulher. Parece uma piada
perfeitamente construída. A ironia parece um pouco nítida demais às vezes, como se esse fosse um roteiro de uma série da
Shondaland. E não termina nunca; estou remando num mar de manchetes ruins, onda
após onda de palavras e ideias que prejudicam atingindo meu rosto. Isso está,
de fato, nos deixando doentes.
Então eu entendo a necessidade de uma convocação feminista,
por discursos motivadores e poesia e quotes do Pinterest. Uma série de chavões
jogados como coletes salva-vidas após um naufrágio. Peguem-nos. Segurem neles,
tentem não afundar.
Mas muitas vezes há um vazio nessas mensagens. Eu sinto um pouco de aflição toda vez que as leio. Pois essas mensagens nunca vêm com um sinal de aviso.
Eu tenho sido uma estranha menina franca durante toda minha
vida. Eu não queria ser, sério. Tudo o que eu queria enquanto crescia era ser
popular e adorada pelos garotos e bonita e doce. Ao invés disso, cada
centímetro do meu ser me forçava em outra direção. Eu não estava fazendo conscientemente
uma afirmação feminista “brava” por nunca conseguir entender o que fazer com o
cabelo. Eu segui algumas das normas de gênero facilmente, mas na maioria das
vezes, era uma batalha perdida. Eu nem mesmo me encaixava nos moldes Tomboy, o
que era legal e desejável e ao menos fazia sentido. Eu estava apelas flutuando
por aí em algum lugar no meio. Era solitário. Eu era a menina que se fantasiava
de espinha no Halloween da oitava série. Essa não era uma escolha que uma
garota popular faria. Essa era a escolha de uma garota que pensou que seria
engraçado, mesmo que ninguém mais tivesse entendido a piada (e acredite em mim,
ninguém entendeu). Minha mãe frequentemente me dizia que eu estava “a frente do
meu tempo”. Era um jeito legal de dizer “você é estranha pra caramba”. Minha
memória geral de meninos durante essa época era dos olhares confusos em seus
rostos sempre que eu falava ou me movia. Eu não era a garota legal e não era
uma garota das garotas também. Era apenas eu e nenhuma influência me faria
mudar.
Esse sentimento de nunca pertencer a lugar algum me seguiu
até a fase adulta e em minha carreira profissional. E agora que eu li cada
escrito feminista do planeta sobre microagressões, clube dos meninos, e sexismo
internalizado, institucional, sistemático e assustador, muito disso me deixou
com o estranho sentimento confuso de “oooh agora tudo faz sentido” e “meu deus
do céu”. Eu consigo enxergar o tabuleiro agora, mas também consigo enxergar que
é impossível vencer.
Então, quando eu vejo essas instruções muito simplistas em
ponto de cruz de “SEJA UMA MULHER DURONA!”... meu coração dá um pequeno suspiro.
Porque o lema nunca é seguido de “Mas esteja pronta para o que isso traz”.
Mesmo que o feminismo seja a modinha do momento agora, e que
você não esteja arriscando muito socialmente ao se identificar como tal, você
deveria saber: se realmente vai fazer isso, e viver isso, você deveria ler os
sinais de aviso primeiro.
FALE ALTO!
Aviso: fale alto, mas tipo, pode ser alto de um jeito fofo e
sexy? Isso vai tornar mais fácil. Certifique-se que seu grito esteja coberto de
açúcar. Os garotos com certeza adoram açúcar! Mas mesmo assim, eles podem
cuspir. Na verdade, não importa qual seja sua mensagem, a maioria das pessoas
irá preferir que você abaixe um pouco o tom.
NÃO DEIXE QUE HOMENS INTERROMPAM VOCÊ!
Aviso: quando você se impõe, eles não gostam nem um
pouquinho. Recentemente eu estava em uma reunião e o tópico feminismo surgiu.
Durante a conversa, eu era repetidamente interrompida por vários homens. Quando
fiz piada apontando que o que eles estavam fazendo era um exemplo do problema,
me disseram “bom, talvez você esteja sendo muito interrompida porque nunca para
de falar”. Eu quis gritar.
(Além disso, posso falar que dizer para mulheres “não deixe
homens interromperem você” é absurdo. “Use a telepatia para entrar no cérebro
do homem e mudar seu comportamento! Você consegue garota!”)
OCUPE ESPAÇO!
Aviso: existe um pequeno espaço para você. Quando você ocupa
mais espaço do que o atribuído, você sentirá o aperto. É física simples. Não
apenas você vai sentir como vai deixar hematomas. Durante os últimos anos, eu
tenho feito apresentações para programas de TV. Você se surpreenderia com a
frequência com a qual a frase “nós realmente
queremos projetos liderados por mulheres” é seguida rapidamente de “mas, isso é
provavelmente feminino demais”. Você começa a subconscientemente começar suas
apresentações reconhecendo que você é uma mulher, e que isso com certeza é um
problema, mas podemos superar totalmente! Todo mundo está falando muito
sobre quebrar barreiras para mulheres atualmente, mas em muitos lugares, os
muros estão firmes em seus lugares. Você frequentemente sentirá a necessidade
de se desculpar apenas por estar lá.
NÃO RIA DAS PIADAS IDIOTAS QUE HOMENS FAZEM!
Aviso: rir das piadas idiotas dos homens pode abrir muitas portas
para você. Quando você é a estraga prazeres, você é deixada de lado e ignorada.
Ninguém quer uma chata por perto. Eu passo por isso muitas vezes: sempre que um
comediante homem se mete em algum tipo de problema com o público, as pessoas
esperam que comediantes feministas assumam um lado, defendendo o homem até seu
último suspiro ou entrando para o clube dos justiceiros, sendo banida para
sempre da mesa dos descolados. Quando você decide ser uma feminista neste
mundo, esteja pronta para constantemente ter que fazer escolhas em espaços que
não permitem sutilezas.
APOIE OUTRAS MULHERES!
Aviso: muitas das outras mulheres já vão te odiar por todas as coisas listadas acima. Seu comportamento será um inconveniente para
que elas continuem operando confortavelmente no clube dos meninos. Seu esforço
para ocupar mais espaço soará como uma invasão no espaço delas. Algumas delas
não vão valorizar o seu apoio porque você tem uma doença que elas não querem
pegar. Ah, e você vai precisar decidir se realmente quer encarar – porque quando
você escolhe verdadeiramente apoiar outras mulheres, meio que perde o direito
de ser escrota com elas por trás dos panos.
SEJA UMA CHEFE DURONA!
Aviso: quando você inicia sua nova vida como uma Chefe
Durona, você irá constantemente se perguntar “O que isso significa? Eu ainda
posso tirar sonecas?” Você nunca saberá se está sendo “feminista o suficiente”.
E a lista crescente de compromissos que pedirão para você assumir só para
passar por um dia irá te devorar. Você conseguirá progredir um pouquinho se
está tão atolada em seus próprios princípios que ninguém te vê ou escuta? Você
pode ser bem sucedida sem ao menos jogar o jogo deles um pouquinho? Você
consegue lutar pelo próprio empoderamento enquanto dá espaço para outros menos
privilegiados que você? Estou liberada para cometer erros?
Eu não estou tentando fazer você se sentir mal por imprimir sua
citação feminista favorita e colar em seu cubículo. Se esses lemas tem mantém a
salvo, faça isso. Só estou dizendo, você colocou o colete salva-vidas, e agora?
Você ainda tem que nadar até a costa.
Eu acho que a coisa que mais machuca sobre essa eleição é só
o quão duras as pessoas estão tornando as coisas para Hillary Clinton. Que esse
país odeia tanto as mulheres que isso poderia até virar um concurso. Que tão
poucas pessoas estão dispostas a ao menos examinar seus preconceitos contra
ela. Que ela tem que lidar com algumas das táticas mais vis que já vimos na
política americana. Mas droga, ela conseguiu. Ela chegou até aqui, não porque
leu algum lema feminista. Ela chegou até aqui porque ela leu os sinais de aviso
e decidiu fazê-lo de qualquer forma.
Estou com ela. Foda-se se você tem um problema com isso.