terça-feira, 16 de janeiro de 2018

[CAPÍTULO 4, PARTE 3] Beleza e Misoginia - Sheila Jeffreys (2005)

DEPILANDO AS GENITÁLIAS DAS MULHERES

As mulheres prostituídas na pornografia têm seus pelos pubianos removidos: “a vasta maioria das mulheres no pornô têm vulvas bem depiladas, ou perto disso” (Castleman, 2000). Isso aparentemente nem sempre foi a prática na pornografia. Nos anos 70 haviam “arbustos completos” e a partir dos anos 80 começou “uma tendência em direção à ausência de pelos” (Castleman, 2000). Existe pouca informação disponível sobre o porquê dessa mudança acontecer. Isso pode se dever a uma demanda crescente de compradores homens por poder ver as genitálias das mulheres em filmagens não danificadas por pelos. A loucura por clubes de dança nos anos 90 pode ser outra resposta a essa demanda, já que permite que compradores homens observem durante períodos consideráveis de tempo genitálias e ânus depilados de mulheres. Existem outras razões pelas quais homens podem ter dificuldades com pelos. Eles fazem com que mulheres pareçam crescidas. Muitos homens preferem que mulheres pareçam não ter entrado na puberdade. Homens são treinados pela pornografia para ver a falta de pelos em mulheres como “natural” e achar a presença deles em mulheres de mau gosto ou menos excitante.

Existem problemas associados com depilar as genitálias, apesar de ser esta a prática que as estrelas pornô empregam (Castleman, 2000).  A depilação com lâmina deve acontecer todos os dias para manter os pelos sob controle e isso causa feridas. A área depilada pode coçar muito e conforme o pelo cresce novamente, a mulher pode ficar com pelo encravado ou a genitália pode ficar dolorida. Estrelas pornô explicaram para Michael Castleman no website Salon.com como lidam com ter que estar depiladas. Elas se depilam com lâmina diariamente e “usam roupas e roupas íntimas largas” pois, “Uma vulva depilada se irrita mais facilmente que a coberta com uma fina camada de pelos pubianos” (Castleman, 2000). Uma estrela pornô diz que muitas mulheres na pornografia apresentam feridas e pelos encravados que são sinais de dano doloroso, mas as câmeras podem registrar isso de forma que as mulheres pareçam “mais macias do que realmente são” (Castleman, 2000). Rome disse a Castleman (2000) que desistiu de se depilar assim que saiu da pornografia e não teve mais que fazer isso: “Era parte de se preparar para o trabalho.”

Apesar de, como vimos, estrelas pornô terem que depilar as genitálias porque devem estar sem pelos todos os dias, é a prática da depilação brasileira que pegou entre mulheres fora da pornografia para proporcionar a ausência de pelos para seus homens. Depilação com cera não é útil para a ausência de pelos diária pois funciona apenas em pelos de certo tamanho, então as mulheres devem esperar até que os pelos cresçam novamente antes de refazer o procedimento. É uma extensão da depilação da área do biquíni; isto é, a depilação com cera da linha do biquíni que tornou-se necessária conforme a indústria da moda exigiu que as mulheres deveriam usar minúsculos pedaços de material para torná-las mais excitantes para os observadores homens. Os pequenos biquínis não cobriam a mulher o suficiente para esconder os pelos pubianos e era esperado que elas depilassem já que pelos visíveis em mulheres era considerado nojento. Duas forças trabalharam juntas, a exigência de que mulheres performassem seu papel sexual na praia e o medo e ódio culturais aos pelos femininos.

A prática da depilação brasileira supostamente foi originada com sete irmãs brasileiras em Nova Iorque que “foram pioneiras e aperfeiçoaram o método brasileiro nos EUA e têm uma longa (Gwyneth, Naomi) lista de clientes celebridades. De acordo com Jonice, ‘No Brasil, com biquínis tão pequenos, a depilação se tornou parte da cultura’” (Fashion Icon, 2002). A depilação brasileira remove todos os pelos da área púbica: “A depilação brasileira basicamente remove TUDO, deixando apenas uma pequenina faixa de pelos bem aparados na frente (referidos por alguns como ‘airstrip’, ‘depilação tanga’ ou ‘depilação Playboy’)” (Fashion Icon, 2002). Para algumas mulheres essa é apenas uma extensão da depilação biquíni: “Muitas mulheres pedem a depilação brasileira porque é uma depilação limpa e rente e dá liberdade de usar até a mais reveladora roupa de banho e lingerie” (iVillage, 2001). O procedimento é assim:
Uma tanga de papel deve ser fornecida, mas mais provavelmente você estará nua. Primeiro os pelos são aparados com tesoura para que a cera possa alcançar os folículos. Em seguida, usando uma espátula de madeira, uma profissional coloca cera morna na área, um pouco de cada vez [...] uma depilação brasileira tradicional inclui os lábios e a área entre os glúteos. Se ainda ficarem áreas com pelos após a depilação a profissional pode também depilar com pinça.(iVillage, 2001)
O website explica que dói: “Não espere um piquenique. Dói e não tem jeito! [...] Aquelas que precisam continuar de novo e de novo no mesmo lugar são as piores – e simplesmente prolongam a agonia [...] A tortura não dura para sempre. Uma depilação de biquíni brasileira [...] não deve demorar mais que meia hora.” (iVillage, 2001). O problema de pelos encravados ainda existe e sem dúvida seria excruciante na área genital mas, aparentemente, depiladoras brasileiras têm menos cerimônia para encontrar e retirar com pinça do que as depiladoras normais. Salões usam loção antisséptica após a depilação para tentar aliviar o desconforto.

A principal razão pela qual mulheres depilam suas genitálias com cera pode ser o desejo de agradar o tipo de parceiro que acha o visual da pornografia e da prostituição sexualmente excitante. Uma depiladora australiana de depilação brasileira explica em Cosmopolitan (McCouch, 2002) que quando ela se depilou pela primeira vez “doeu como o inferno” mas “A melhor parte foi quando meu namorado viu. Ele nunca tinha ficado com uma ‘careca’ total e disse ‘Meu deus, você está tão gostosa!’” Ela depilou sua irmã e o marido dela acabou com sua apreensão dizendo “Vamos lá, tente. Parece sexy” (McCouch, 2002, p. 92). Ela diz que as clientes podem ser perigosas ao lidar com a dor: “Algumas de minhas clientes podem ficar até perigosas. Uma se debate tão violentamente de dor que tenho medo de ela quebrar a mesa e derramar cera quente em nós duas” (McCouch, 2002, p. 94). Um painel inserido no artigo tem como título: “Sem dor, sem ganho. Os caras falam sobre como eles amam quando você se arruma ao extremo”. Essa mensagem é claramente sobre como a depilação com cera é para satisfação masculina. Nenhuma outra motivação é mencionada. Os “caras” expressam o quanto gostam que mulheres depilem suas genitálias. Rodney, um contador de 28 anos diz “Depilação brasileira é o equilíbrio entre vulgar e sexy, menina má e doce. [Significa] Que ela vai passar pela dor e esbanjar atenção consigo mesma lá embaixo, o que é muito legal – e o fato de isso ser meio por minha causa é bem excitante” (McCouch, 2002, p. 94). John, um chef de 24 anos diz “Mostra que ela realmente se importa – e acredite em mim, nós notamos!” Dan, 27, piloto, diz “A depilação brasileira me excita de tantas formas – ver mais do que geralmente vejo é incrivelmente estimulante. Além disso, sinto como se estivesse com uma menina um pouco safada.” Greg, 32, executivo de propaganda, diz: “Se uma mulher faz depilação brasileira, significa que ela gosta de cuidar de si mesma e tem um lado sexy.” Dessa forma, mulheres aprendem que a dor, a indignidade e a despesa (por volta de US$45 por sessão) da depilação brasileira podem melhorar suas chances de agradar um parceiro.

A exigência de alguns homens que a mulher esteja depilada é agora um tópico corriqueiro em propagandas de meu jornal local em Melbourne. Um anúncio de estúdio de depilação deixa claro que uma depilação brasileira é necessária para mulheres que querem ser aceitas sexualmente por homens: “Pessoas cujos estilos de vida progridem para além do missionário descobrem as vantagens de se cuidar melhor. Penteado íntimo? Talvez” (Ready for Brazilian Waxing?, 2014, p. 15). A foto que acompanha é de uma jovem fazendo beicinho com uma longa franja cobrindo metade de seu rosto. Por cima um pequeno escrito que diz “Nem todo mundo gosta de cabelo no rosto”. Esse é um exemplo de como a indústria da beleza foi “pornografizada”. Também mostra o tipo de chantagem usado para forçar mulheres a ir ao estúdio de depilação.

Depilação é um aspecto significativo do imaginação e prática pornográfica dos homens. Existem sites de discussão na web onde homens podem participar de conversas sobre suas parceiras e sobre si mesmos. Um homem escreve na seção “Depilação” do fórum Lovers’ Feedback: “Encontrei esse excelente link sobre genitais, imagens detalhadas de depilação e métodos, etc.” (Lloyd, 2002). Os homens na discussão têm exigências muito específicas sobre mulheres: “Eu amo quando as mulheres mantém suas xoxotas macias e limpas. Mas eu digo macias mesmo. Definitivamente não é legal quando ela fica com os pelos por fazer, sem depilar, arrancar com pinça ou passar a lâmina regularmente” (Lloyd, 2002). Outro diz “Eu gosto de fazer sexo oral na minha esposa, mas esses pelos sempre ficam no caminho [...] Agora eu a depilo de tempos em tempos” (Lloyd, 2002). A existência da depilação como gênero pornográfico para homens é notada pela instrução no site AskMen sobre como fazer com que a parceira se depile: “Tente encontrar um filme com uma cena de depilação, já que isso vai te dar uma melhor chance de fazer com que sua parceira fique careca e linda” (Strovny, 2002). Existe um bom exemplo da forma pela qual a pornografia pode ser usada por homens como manual de instruções para suas parceiras: ensiná-las o que é preciso para servir sexualmente a um homem. O autor sugere medidas mais coercitivas entretanto: “diga a ela brincando que você não fará sexo oral até que ela se depile para você [...] Se ela ainda assim não quiser fazer isso por você, troque de parceira sexual” (Strovny, 2002). Ele recomenda pegar a mulher de surpresa se ela não concordar: “Ela saber, ou melhor, não saber o que você está prestes a fazer com ela é algo a mais no já apimentado elemento da preliminar.” Mas ele diz que depilação é um trabalho árduo. Homens devem praticar nas pernas das mulheres primeiro para não danificar suas genitálias quando chegarem lá. Strovny recomenda que quando os homens perguntarem às mulheres se podem depilá-las eles devem “usar um tom de piada; isso dá um plano B se ela reagir de forma azeda”, ou “Outra forma bem direta de perguntar é pegar uma lâmina e creme de barbear durante as preliminares.”

Agora que a falta de pelos é regra na pornografia, um gênero de pornô foi desenvolvido para homens que gostam de assistir mulheres com pelos. Isso é chamado, em um website, “bearded clams” (Tradução: algo como “molusco barbudo”) (Shave My Pussy, 2002). Esse nome sugere que as genitálias femininas são perigosas, como na ideia da vagina com dentes, e que, talvez, elas cheirem. Mulheres são, é claro, chamadas de “peixe” em partes por homens gays e pela cultura heterossexual devido ao suposto odor (Jeffreys, 2003).

Como resultado da depilação brasileira as mulheres prestaram mais atenção em seus lábios vaginais pois agora eles estão visíveis como nunca antes. Na pornografia os lábios vaginais são frequentemente pintados artificialmente para que pareçam mais uniformes. As mulheres não têm lábios obviamente desiguais ou particularmente longos porque eles são arrumados pelo aerógrafo para que homens não se ofendam, e possam adquirir um produto uniforme. Mas a pintura não é suficiente e mulheres na pornografia regularmente empregam a labioplastia, na qual os lábios são cortados para modelar, criar o visual padrão. Essa prática pornográfica tem impacto sobre mulheres fora da pornografia quando os namorados pressionam as mulheres para que pareçam estrelas pornô sem pelos. Mulheres, já treinadas em culturas dominadas por homens a não gostar de suas genitálias, as notam mais. Elas podem se preocupar por suas genitálias não serem como a das mulheres na pornografia, ou seus parceiros podem deixar isso claro para elas. Elas então recorrem a cirurgiões cosméticos que já obtém um bom ganho arrumando estrelas pornô. A influência da pornografia é abertamente admitida pelos próprios cirurgiões. Dessa forma, Dr. Alter, um expoente da labioplastia, chama a demanda pelo procedimento de “Efeito Penthouse” (Alter, 2002). Ele explica que a Playboy gerou a demanda por aumento de seios nos anos 1960 e 1970, em seguida “fotos de virilhas em revistas e imagens pornográficas aumentaram a consciência das mulheres a respeito de suas partes baixas” (Alter, 2002).

A labioplastia é chamada pela revista Cosmopolitan de “cirurgia de aprimoramento sexual” (Loy, 2000) e inclui:
Estreitamento vaginal (similar ao ponto do marido – ato de costurar a vagina esticada ou dividida após o nascimento da criança),  liposucção e levantamento dos lábios que começaram a perder a batalha para a gravidade, “reparo” do hímen, corte ou alongamento de lábios assimétricos, remoção de pele do clitóris para maior fricção e injeção de gordura (retirada da parte interior da coxa) em lábios muito magros.(Loy, 2000)
Aya Zawadi (2000) em artigo chamado “Mutilação por Escolha”, na americana Soul Magazine, compara a labioplastia com a mutilação genital feminina. Ela entrevistou mulheres sobre as razões pelas quais elas consideraram a labioplastia o que revelou ansiedade e constrangimento sobre a suposta feiura dos lábios. Uma mulher disse “Lábios compridos são tão feios e nojentos, eu me sinto muito constrangida por causa deles, consideraria uma intervenção.” Outra explicou, “Os meus são protuberantes para fora dos lábios externos, estou planejando fazer uma cirurgia como presente de aniversário para mim mesma” (Zawadi, 2000). Os efeitos colaterais que as entrevistadas sofreram foram desagradáveis. “Betty” ainda sentia dor 6 semanas após a cirurgia. Ela tinha poucas cicatrizes mas disse que outra mulher que se submeteu à cirurgia no mesmo dia que ela, teve: “Cicatrizes horríveis. Eu não conseguia olhar. Só sei que ela [a mulher que dividiu o quarto com ela] estava horrorizada e terrivelmente deprimida” (Zawadi, 2000). Essa mulher acabou buscando aconselhamento para lidar com a experiência. Como “Rhonda” diz, “Você pode pensar que está fazendo isso pela própria autoestima, para se sentir mais desejável, mas no final você está fazendo isso pelos homens.” Outros efeitos colaterais incluem “muita dor e uma espera de dois meses antes de poder fazer sexo. Sem mencionar lábios muito inchados.” Os riscos após a labioplastia incluem perda de sensação, estreitamento exacerbado da abertura vaginal, desconforto devido a roupas e visual não natural das genitálias ao invés de uma mudança positiva. A conclusão de Zawadi (2000) é que “Nós lutamos muito e por muito tempo contra o que ainda ocorre em outras partes do mundo para agora nos voluntariarmos para a mutilação no consultório de um médico.”

Uma razão pela qual mulheres heterossexuais podem sentir que suas genitálias requerem cirurgia é que elas não sabem como as genitálias de outras mulheres são. Um influente cirurgião australiano disse que no início dos anos 1990 não havia demanda por cirurgia plástica genital feminina, mas que agora ele estava vendo duas por mês e a demanda estava crescendo (Fyfe, 2001). Ele atribuiu o aumento na demanda a “revistas masculinas”, e declarou que 90% das mulheres que recorriam a ele para fazer cirurgia plástica genital acreditavam falsamente que algo estava errado com elas. Retratar a genitália feminina em “publicações não restritas” (i.e. disponíveis sem capa plástica nas prateleiras) é proibido na Austrália de acordo com diretrizes determinadas em 1999. Isso significa que revistas pornográficas que querem evitar a capa plástica alteram digitalmente as imagens para que as genitálias das mulheres não sejam “realistas”. Mulheres que veem as genitálias de outras mulheres na pornografia são portanto incapazes de fazer uma comparação realista consigo mesmas. Elizabeth Haiken, autora de Venus Envy: A History of Cosmetic Surgery (1997) apoia este ponto de vista sobre as origens da demanda popular pela labioplastia: “Antes das fotos de virilha serem publicadas ninguém estava interessado nisso, mas agora todos sabem como os  lábios deveriam parecer” (Leibovich, 1998).

A história de Victoria em Marie Claire sugere que a busca das mulheres pela labioplastia surgiu da revelação dos lábios através da prática da depilação brasileira:
Quando surgiu o entusiasmo por depilações biquíni e a quase total ausência de pelos pubianos, meus lábios proeminentes realmente começaram a me incomodar. Quando eu estava nua, podia ver meus lábios pendurados pelo menos uma polegada. Eu senti que parecia que eu tinha testículos. Era como uma traição do meu corpo. Eu sempre odiei aquele momento no qual o cara estava colocando a camisinha, suspenso sobre as pernas abertas. Se eu pensasse que ele estaria vendo, isso não saía da minha cabeça durante o sexo. E algumas vezes durante o sexo, os lábios podiam ser empurrados para dentro, o que não era doloroso, só irritante. Eu estava realmente constrangida – ao ponto que se meu namorado entrasse no banho comigo, eu me encolhia. Eu me sentia constrangia até mesmo quando ia ao ginecologista. 
(Hudepohl, 2000)
Os efeitos colaterais que Victoria sofreu foram muito dolorosos: “A área estava muito inchada, talvez cinco vezes o tamanho que tinha antes, e os pontos eram muito mais extensos do que eu pensei. Tive que deitar com uma compressa de gelo entre as pernas, e no terceiro dia, quando saí para uma caminhada curta, começou a latejar, então tive que ir para casa e reaplicar o gelo.” Mas ela considera que o sofrimento valeu a pena porque agora ela se sente menos constrangida: “Agora eu me sinto tão confortável com meu corpo quando estou nua, de frente para meu namorado. Eu me sinto mais sexy e menos inibida. Dificilmente consigo ver a cicatriz. O que eu gosto mais é me olhar no espelho sem ver nada pendurado” (Hudepohl, 2000). Ela não sugere que o namorado tenha influenciado sua decisão. Nesse caso, Victoria buscou uma cirurgia dolorosa e debilitante porque foi culturalmente induzida a ver genitais perfeitamente normais como desagradáveis. Seu cirurgião lucra com o ódio social a mulheres.

Quando cirurgiões de labioplastia anunciam  seus produtos, brincam com a noção de que a prática é em prol do interesse feminino ao invés de tornar mulheres mais sexualmente atraentes para homens. No website LabiaplastySurgeon.com, no qual um cirurgião cosmético anuncia para contratar, o procedimento é descrito assim:
Labioplastia é um procedimento cirúrgico que vai reduzir e/ou remodelar os pequenos lábios – a pele que cobre o clitóris feminino e a abertura vaginal. Em alguns casos, mulheres com lábios grandes podem experienciar dor durante o intercurso, ou sentir desconforto durante atividades cotidianas ou quando usam roupas apertadas. Outras podem não se sentir atraentes ou desejarem aprimorar suas experiências sexuais ao retirar a pele que cobre o clitóris. O propósito da labioplastia é definir melhor os pequenos lábios.(LabiaplastySurgeon.com, 2002)
As “melhores candidatas” são “Mulheres que estão experimentando disfunções sexuais ou constrangimento porque seus lábios [...] são grandes demais ou assimétricos. Também mulheres que não gostam do tamanho grande ou modelo de seus lábios, o que pode causar deselegância ou estranhamento com um parceiro sexual” (LabiaplastySurgeon.com, 2002). Fotos de antes e depois no site mostram as genitálias de uma mulher sem sorte. “Antes” ela tinha lábios identificáveis que mediam por volta de 1 centímetro, “depois” ela não tem nada que possa ser visto. Outro cirurgião, Dr. Robert S. Stubbs, oferece uma grande variedade de procedimentos cirúrgicos nas genitálias femininas que inclui aumentar os grandes lábios, “aumento de labia majora” e “retirada de pele do clitóris” ou “aprimoramento genital” geral. Fotos de antes e depois de todos esses procedimentos estão disponíveis na web em uma Galeria de Arte Cirúrgica (Psurg, 2002).

Cirurgiões de labioplastia também oferecem outras “cirurgias genitais” Mulheres podem ter a “abertura da uretra redefinida” e “melhorias necessárias a vagina” podem ser realizadas ao mesmo tempo (LabiaplastySurgeon.com, 2002). A cirurgia na vagina é chamada “rejuvenescimento vaginal” e isso é descrito como sendo “Para mulheres que experienciaram múltiplos partos”, cujos músculos vaginais podem ter passado por “alargamento” durante o parto de forma que elas têm “músculos vaginais soltos e fracos”. A cirurgia “pode geralmente corrigir o problema de músculos vaginais soltos, resultado de parto(s), e isso é um meio direto de elevar a vida sexual mais uma vez”. A vida sexual de quem será elevada aqui, a da mulher ou do parceiro sexual desapontado, não fica claro. A técnica pode ser realizada em “pacientes não internadas” e “aperta músculos e tecidos adjacentes amolecidos ao reduzir mucosa vaginal excessiva (revestimento vaginal)” (LabiaplastySurgeon.com, 2002). Outras formas de cirurgia estão disponíveis para mulheres preocupadas com os efeitos da idade em suas genitálias. Dessa forma o cirurgião de labioplastia Dr. Gary Alter explica que a genitália feminina muda de forma conforme a mulher envelhece e as mulheres podem precisar reverter isso, “Conforme envelhecemos, a gravidade faz com que todas as partes do corpo descendam. Assim, os pelos pubianos, as regiões do púbis e vaginal também descendem, causando uma aparência envelhecida. Essa área é elevada realizando o oposto de uma abdominoplastia; o excesso de pele acima dos pelos pubianos é retirado, elevando o púbis. Esse procedimento é frequentemente combinado com a abdominoplastia” (Alter, 2002).

Cirurgiões de labioplastia agora oferecem rotineiramente reparo de hímen para mulheres de culturas nas quais a virgindade é uma exigência para o casamento. Liberty Women’s Health Care do Queens, em Nova Iorque, por exemplo, oferece uma variedade de cirurgias genitais que inclui “Cirurgia de Reparo de Hímen, Restauração, Himenoplastia, Himenorrafia do Anel Himenal” (Liberty Women’s Health, 2002). Eles explicam a necessidade desses procedimentos dessa forma: “O anel himenal normalmente é rompido após o intercurso sexual ou até mesmo após vigorosa atividade física ou uso de absorventes internos. Às vezes, por razões culturais ou pessoais (por exemplo, um casamento), uma mulher pode querer restaurar um anel himenal intacto e apertado.” Quando esse é o caso eles oferecem uma técnica cirúrgica especial que pode “reparar e apertar o hímen para um estado mais intacto e virginal na maioria das pacientes”. A cirurgia é “virtualmente indetectável”. A prática que a clínica oferece é comum em países como a Turquia onde a virgindade da mulher é necessária parte do contrato de casamento (Cindoglu, 1997). Em tais países mulheres estão sujeitas a códigos patriarcais tradicionais de moralidade. Mulheres e meninas são transformadas cirurgicamente em “virgens” para que um melhor preço seja cobrado por elas, ou uma melhor classe de marido. Imigrantes desses países estão agora criando um mercado lucrativo para cirurgiões preparados para realizar a cirurgia em países ocidentais como os EUA e Holanda (Saharso, 2003).

Liberty Women’s Health piedosamente afirmou que nunca “ofereceriam ou permitiriam qualquer forma de circuncisão ou mutilação genital, independente da crença cultural”. Eles irão realizar cirurgia para fazer com que mulheres estejam de acordo com as demandas da pornografia ocidental ou da tradição Islâmica ao cortá-las, entretanto. Isso é comparável, mas com certeza dificilmente distinguível de mutilação genital feminina. Há um bom lucro para médicos que se submetem às cruéis demandas da cultura em reparo de hímen ou labioplastia em corpos femininos bem como reparo danos resultantes de tais demandas.

A cirurgia realizada em genitálias femininas para satisfazer desejos pornográficos de homens é um bom exemplo da forma pela qual a profissão médica pode atuar como ajudante da dominação masculina. A medicina está agora na prática de esculpir as genitálias da pornografia em corpos femininos. Como Dilek Cindoglu diz sobre as práticas de cirurgiões na Turquia que fazem a cirurgia de reparação de hímen: “Médicos como profissionais e a medicina como instituição não são independentes do ambiente social no qual existem” e suas cirurgias precisam ser vistas como “intervenções da medicina na fábrica social de forma muito patriarcal” (Cindoglu, 1997, p. 260). Cirurgiões ocidentais que realizam labioplastia culturalmente requerida e outras cirurgias de “aprimoramento sexual” dão profundamente envolvidos na pornografização da mulher.


O resultado da normalização da pornografia nos anos 1980 e 1990, através do culto à Madonna e a internet, é que a imagem do que é bonito para jovens mulheres e meninas tornou-se inextricavelmente ligada à indústria do sexo. Parecer com Madonna transformou-se no século XXI em parecer com Britney Spears mas o impulso, de representar a prostituição, é o mesmo. Na passarela os valores e práticas da prostituição e pornografia agora dominam. Estilistas homens estão vendendo o visual da prostituição sadomasoquista em particular, aos ricos e modernos. No próximo capítulo olho criticamente para o que passa pela moda e os homens que a criam. 

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